História: A Festa de Corpus Christi foi instituída pelo Papa
Urbano IV com a Bula “Transiturus” de 11 de agosto de 1264, para ser celebrada
na quinta-feira após a Festa da Santíssima Trindade, que acontece no domingo
depois de Pentecostes.
O Papa Urbano IV foi o cônego Tiago Pantaleão de Troyes,
arcediago do Cabido Diocesano de Liège na Bélgica, que recebeu o segredo das
visões da freira agostiniana, Juliana de Mont Cornillon, as quais exigiam uma
festa da Eucaristia no Ano Litúrgico.
Juliana nasceu em Liège em 1192 e participava da paróquia
Saint Martin. Com 14 anos, em 1206, entrou para o convento das agostinianas em
Mont Cornillon, na periferia de Liège. Com 17 anos, em 1209, começou a ter
‘visões’, exigindo da Igreja uma festa anual para agradecer o sacramento da
Eucaristia. Com 38 anos, em 1230, confidenciou esse segredo ao arcediago de
Liège, que 31 anos depois, por três anos, se tornaria o Papa Urbano IV
(1261-1264), tornando mundial a Festa de Corpus Christi, pouco antes de morrer.
A “Fête Dieu” começou na paróquia de Saint Martin em Liège,
em 1230, com autorização do arcediago para procissão Eucarística só dentro da
igreja, a fim de proclamar a gratidão a Deus pelo benefício da Eucaristia. Em
1247, aconteceu a primeira Procissão Eucarística pelas ruas de Liège, já como
festa da diocese. Depois se tornou festa nacional na Bélgica. A festa mundial
de Corpus Christi foi decretada em 1264, 6 anos após a morte de irmã Juliana em
1258, com 66 anos.
Santa Juliana de Mont Cornillon foi canonizada em 1599 pelo
Papa Clemente VIII.
Celebração: O decreto do Papa Urbano IV teve pouca
repercussão, porque ele morreu em seguida. Mas se propagou por algumas igrejas,
como na diocese de Colônia na Alemanha, onde Corpus Christi é celebrada antes
de 1270. O ofício divino, seus hinos, a sequência ‘Lauda Sion Salvatorem‘ são
de Santo Tomás de Aquino (1223-1274), que estudou em Colônia com Santo Alberto
Magno. Essa festa [Corpus Christi] tomou seu caráter universal definitivo, 50
anos depois de Urbano IV, a partir do século XIV, quando o Papa Clemente V, em
1313, confirmou a Bula de Urbano IV nas Constituições Clementinas do Corpus
Júris, tornando a Festa da Eucaristia um dever canônico mundial.
Em 1317, o Papa João XXII publicou esse Corpus Júris com o
dever de levar a Eucaristia em procissão pelas vias públicas. O Concílio de
Trento (1545-1563), por causa dos protestantes, da Reforma de Lutero, dos que
negavam a presença real de Cristo na Eucaristia, fortaleceu o decreto da
instituição da Festa de Corpus Christi, obrigando o clero a realizar a
Procissão Eucarística pelas ruas da cidade, como ação de graças pelo dom
supremo da Eucaristia e como manifestação pública da fé na presença real de
Cristo na Eucaristia.
Em 1983, o novo Código de Direito Canônico – cânon 944 –
mantém a obrigação de se manifestar “o testemunho público de veneração para com
a Santíssima Eucaristia” e “onde for possível, haja procissão pelas vias
públicas”, mas os bispos escolham a melhor maneira de fazer isso, garantindo a
participação do povo e a dignidade da manifestação.
Sacramento: A Eucaristia é um dos sete sacramentos e foi
instituído na Última Ceia, quando Jesus disse: “Este é o meu corpo…isto é o meu
sangue… fazei isto em memória de mim”. Porque a Eucaristia foi celebrada pela
primeira vez na Quinta-Feira Santa, Corpus Christi se celebra sempre numa
quinta-feira após o domingo depois de Pentecostes.
Na véspera da Sexta-Feira Santa, a morte na cruz impede uma
festa solene e digna de gratidão e doutrinação. Porque a Última Ceia está no Novo
Testamento, os evangélicos lhe têm grande consideração, mas com interpretação
diferente.
Para os luteranos e metodistas, a Eucaristia é sacramento,
mas Cristo está presente no pão e no vinho apenas durante a celebração, como
permanência e não transubstanciação. Outras igrejas cristãs celebram a Ceia
como lembrança, memorial, rememoração, sinal, mas não reconhecem a presença
real de Cristo nela. Mas alguma coisa existe em comum que, por intermédio da
Eucaristia, une algumas Igrejas cristãs na Eucaristia, ensina o Concílio
Vaticano II, no decreto “Unitatis Redintegratio“.
A Eucaristia é também celebração do amor e união, da
comum-união com Cristo e com os irmãos.
Ela [Eucaristia], que é a renovação do sacrifício de Cristo
na cruz, significa também reunião em torno da mesa, da vida e da unidade para
repartir o pão e o amor. E é o centro da vida dos cristãos: “Eu sou o Pão da
Vida, que desceu do céu para a vida do mundo, por meio da vida de comum-união
dos cristãos”.
Ornamentação: A decoração das ruas para a Procissão de
Corpus Christi é uma herança de Portugal e tradição brasileira. Muitas cidades
enfeitam suas ruas centrais com quilômetros de tapetes, feitos de serragem
colorida, areia, tampinhas de garrafa, cascas de ovos, pó de café, farinha,
flores, roupas e outros ingredientes.
(*)Exerceu o ministério por 7 anos na Arquidiocese de
Botucatu (63/69), por 14 anos na Diocese de Apucarana (69/83) e por 8 anos na
CNBB de Brasília. A partir de 1991 integrou a Arquidiocese de São Paulo, como
Vigário Episcopal de Comunicação. É autor do livro “Como Falar com os Meios de
Comunicação da Igreja”. Faleceu no dia 11/10/2001.
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